quarta-feira, 25 de julho de 2012

Ela

Ela, uma menina linda de olhos negros e brilhantes como uma noite de lua cheia, sua pele era negra, tão linda e macia, seus cabelos não me importavam porque não expressavam nada para mim. Uma criança tão inocente, ali na minha frente urrando de dor...
Há 1 ano residindo na África do Sul vi várias crianças como essa que estou aqui narrando. Não fui morar lá porquê quis e sim porque precisei ir para ajudar as pessoas. Desde pequeno eu gostava de ajudar as pessoas, sempre quis me sentir útil e quando recebi a proposta de viajar para a África para ajudar esse povo sofredor eu não pensei duas vezes e deixei tudo pra trás, minha família, meu posto médico e meus amigos. Sempre tive tudo o que quis, ou quase tudo, e sempre me emocionei com histórias do povo africano. Eu tenho 28 anos e tenho uma filha de 3 anos, minha esposa ficou com ela, toda noite fazia chamadas de vídeo com elas para acalmá-las e matar um pouco da saudade que eu sentia.
Na África as coisas são muito difíceis, a todo momento nos postos médicos chegam milhares de pessoas com diferentes hematomas, no meu posto, especificamente, haviam muitas crianças por conta do tráfico de diamantes lá feito, que toso, ou a maioria pelo menos, devem ter visto no filme "Diamante de Sangue", aquilo não é ficção, as crianças tem suas mãos ou antebraços amputados para não roubarem diamantes que "pertencem" aos traficantes. Depois de um dia cansativo, eu tinha mais uma última cirurgia para fazer.
Entre os urros daquela criança, eu lembrava de minha filha, ambas da mesma idade. Depois de fechar as feridas de onde seria as mãos daquela linda menina, a levamos para repousar em uma tenda para descanso. Exausto avistei minha mulher e minha filha que veio correndo me abraçar, apertei-a e fui dar um beijo em minha esposa, enquanto ia em direção a minha mulher, minha filha foi em direção àquela garotinha que eu acabara de operar e logo estavam brincando, coisa de criança, cheguei próximo a minha filha e expliquei para ela que aquela linda menina precisava descansar pois estava dodói e o papai tinha acabado de operar ela, minha filha entendeu, deu um tchauzinho para a garotinha e foi em direção a minha esposa, eu comecei a ir em direção as duas e ouvir a garotinha me chamar "Doutor, doutor!" virei e perguntei o que era, e ela me perguntou sorridente "as minhas mãozinhas vão crescer de novo né doutor? Ela tem mãozinhas, as minhas vão crescer de novo então" eu fiquei sem reação, sorri para ela e sai, abracei minha filha e chorei, chorei lágrimas que estavam 1 ano presas dentro de mim, não havia chorado desde que cheguei ali, talvez por falta de tempo, e naquela hora eu desabei, decidi que não ficaria ali por nem mais um dia, cedo no outro dia eu peguei o primeiro avião com a minha família e voltei para minha casa, não me leve a mal mas não aguentaria mais ficar naquele lugar, é muita tristeza, muito mais do que retratam em filmes ou do que você possa imaginar.

~Nota da Danny: Eu resolvi fazer um texto diferente hoje porque eu escrevi isso depois de uma aula de Geo Geral, não inventei totalmente essa história, peguei os fatos reais e fiz uma narrativa em primeira pessoa para dar mais emoção (:
Beijodagordã e espero que gostem :*